Durante os meses de julho e agosto, o Movimento das Quebradeiras de Coco Babaçu em parceria com a ActionAid distribuíram mais de 900 cestas básicas para famílias de quebradeiras de coco residentes nas comunidades rurais localizadas no Maranhão, Pará, Tocantins e Piauí. Dentre os alimentos escolhidos para compor a cesta estão produtos oriundos da agricultura familiar e da economia solidária. A ação foi mais uma corrente de solidariedade de combate à fome diante da crise alimentar que tem se instaurado no país.
Cestas compostas por itens da agricultura familiar sendo entregue à famílias de mulheres rurais.
No alcance da distribuição tivemos famílias de quilombolas, indígenas, quebradeiras de coco e pequenos/as agricultores/as familiares, por vezes sendo as mulheres à frente da chefia da família, tendo foco também as crianças e adolescentes que, por conta da Covid 19 e as restrições em relação à escola, muitas não tiveram acesso a merenda escolar, distribuída pelo PNAE. No Maranhão foram entregues 477 kits de alimentação. No Piauí um montante de 186 famílias beneficiadas. No Tocantins foram distribuídas 176 cestas básicas, e no Pará 140. Com o total de cestas básicas mais de 4 mil pessoas foram beneficiadas com o apoio humanitário emergencial da ActionAid e do MIQCB.
Nesta ação, mais uma vez os alimentos agroecológicos estiveram na linha de frente para o fomento da segurança alimentar do campo e da cidade em tempos de crise. Foram incluídos alimentos de mulheres quebradeiras de coco babaçu e agricultores/as familiares que produzem alimentos sem agrotóxicos. Assim, além de levar comida saudável na mesa daqueles que estão em situação de maior vulnerabilidade, também houve a colaboração para a comercialização desses produtos, levando renda aos pequenos produtores que foram prejudicados com poucas vendas durante a pandemia.
As formas de entregas da cestas são diversas. Até carro de boi, como no caso do território de quebradeira de coco e de quilombolas na região da baixada, no Maranhão.
Logo a ação humanitária também viabiliza a renda para as famílias, fortalecendo a economia local, inclusive a própria cadeia produtiva e economia da palmeira de coco babaçu, com a inclusão do azeite de babaçu e farinha de mesocarpo nas cestas, além de outros produtos vindos dos quintais agroecológicos das quebradeiras de coco. "Com a produção de cestas, a gente ajuda outras pessoas e se ajuda também, porque queremos nos manter aqui. O apoio da ActionAid nos incentiva. Pra gente é importante isso, porque estamos levando alimento pra mesa de outras pessoas", relata Rayane, filha e neta de quebradeira de coco babaçu, da comunidade de Santo Antônio do Cit, em Codó, no Maranhão.
Rayane, filha e neta de quebradeira de coco babaçu. Moradoras de território de quebradeira de coco onde produzem azeite de coco babaçu. Foto MIQCB
Para o Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco Babaçu a distribuição de cestas básicas agroecológicas representa uma importante frente de trabalho que as mulheres passaram a desenvolver junto com o apoio de outros parceiros, como a ActionAid, sendo uma ajuda fundamental para muitas famílias e mulheres de comunidades rurais, demonstrando a importância de um trabalho coletivo, solidário e humanizado. "Graças a Deus, não faltou alimento. Pois quando faltava logo chegava uma cesta básica, do MIQCB, de escola, da ActionAid. Da primeira vez eu até falei que tinha gente que precisava mais do que eu, mas no momento que a gente está eu fico muito agradecida com a cesta. É uma ajuda que supri muito. Veio arroz, feijão, macarrão, azeite, floco de milho, biscoito, mais ou menos isso", nos contou Cléia, agricultora e quebradeira de coco de São Domingos do Araguaia, no Pará.
Cléia e sua filha, Ana Clívia com a cesta básica distribuída pela ActionAid e MIQCB
foto: MIQCB
Fome no Brasil
Segundo reportagem da Brasil de Fato e conforme dados do grupo de pesquisa Alimento para Justiça: Poder, Política e Desigualdades Alimentares na Bioeconomia, com sede na Freie Universität Berlin, na Alemanha, 125,6 milhões de brasileiros sofreram com insegurança alimentar durante a pandemia. O número equivale a 59,3% da população do país e se baseia em pesquisa realizada entre agosto e dezembro de 2020. Desde o início da pandemia, o preço dos alimentos aumentou 15% no país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa é quase o triplo da inflação geral registrada no mesmo período, 5,2%.
Os dados da Rede Penssan, reconhecidos pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) como os mais adequados para criar um novo Mapa da Fome no Brasil, apontam que a insegurança alimentar grave atingia 9% da população em 2020. O relatório mais recente da própria FAO apontou que 23,5% da população brasileira, entre 2018 e 2020, deixou de comer por falta de dinheiro ou precisou reduzir a quantidade e qualidade dos alimentos ingeridos. Os resultados evidenciam que, em 2020, a fome no Brasil retornou aos patamares de 2004, situação que seu agravou diante da pandemia e dos desmontes do Estado pelo atual governo federal.
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