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Do fruto à Biojoia: jovens de Pifeiros aprendem o ofício de artesão 


O Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB) Regional Imperatriz e a Cooperativa Interestadual de Mulheres Quebradeiras de Coco (CIMQCB) realizaram uma atividade conjunta na Comunidade Pifeiros com o Grupo Pindova - Filhos da Mãe Palmeira. Entre os dias 17, 18 e 19, o grupo de jovens local participou da 2ª Oficina de Artesanato de 2024, ministrada pela artesã Rosalva Gomes. 

Acélio Santos e Rosenete Gomes participaram de todas as fases do curso. Como são jovens adultos assumiram maiores responsabilidades, principalmente sobre equipamentos perfurocortantes. Adolescentes e crianças ficaram com os processos mais seguros e puderam assistir às atividades com o maquinário para aprender. 

Rosenete avaliou o aprendizado como de grande valor. “Nossa vida vai melhorar, vamos poder fabricar e vender as biojoias além dos outros trabalhos que já fazemos, como a quebra do coco para a produção do azeite. É uma renda a mais”. Acélio, que nasceu e viveu toda sua vida em Pifeiros, vê a vida melhorar com a aproximação da CIMQCB. “A oportunidade que estamos recebendo é preciosa. Nós queremos contribuir com a cooperativa, mas queremos mais ainda conservar nosso modo de viver”.

A coordenadora de base da Regional Imperatriz do MIQCB Edileuza Oliveira dos Santos Almeida esteve durante toda a realização da Oficina e acompanhou cada passo da produção das biojoias dos Pindovinhas de Pifeiros. “Nem só de óleo se vive a quebradeira. A gente faz de tudo com o coco. Não podemos desperdiçar nada do nosso querido babaçu, as biojoias são a prova disso”.

Da coleta do babaçu à exposição das peças fabricadas, os alunos participaram de cada processo com atenção. O primeiro dia foi dedicado à coleta do coco na mata; à retirada da fibra do olho do buriti para a confecção dos cordões com fibra natural; e à serragem do coco para seleção das primeiras peças. 

O segundo dia foi reservado aos trabalhos de acabamento e finalização das biojoias, quando os cocos se tornam colares, pulseiras, brincos e chaveiros. Outras peças podem ser produzidas, como apontou Rosalva. “Vocês aprenderam a fazer a biojoia, nos próximos encontros vamos evoluir para artigos de decoração e peças funcionais como relógios de parede”. 

O último dia esteve reservado à Exposição das Biojoias, mas também foi momento de compartilhar apresentações e memórias. A Secretária da Juventude do MIQCB, Maria José Silva, que também é coordenadora executiva da Regional Imperatriz, trouxe novas perspectivas do trabalho de inclusão dos jovens no Movimento com a chegada da nova assessora Carla Pinheiro. 

Maria José reforçou que a inclusão do eixo Juventudes no Planejamento Estratégico do MIQCB representa o interesse da entidade em investir no futuro e ouvir as novas ideias e práticas que nascem dentro das comunidades. “No meu ponto de vista, assim como a CIMQCB tem buscado evoluir, a articulação dos jovens aponta para a conquista do protagonismo de suas histórias”. Essa união resulta na fabricação de novos produtos com capacidade de conservar a sabedoria ancestral e a inovação da identidade cultural. “Vivemos um período de fortalecimento. Estamos apenas começando”.

Todas as coordenadoras da Regional Imperatriz estiveram presentes. Com exceção de Edileuza Oliveira dos Santos Almeida que esteve nos três dias de atividades, as demais coordenadoras de base Judite Teodoro dos Santos e Luseny dos Santos Oliveira compartilharam a experiêcia de assitir a apresentação e exposição das biojoias, além de apreciar o resgate histórico da comunidade.

A matriarca da comunidade, Marinez Bispo dos Santos, disse que se orgulha da juventude da sua comunidade engajada na vida do babaçu. “Os jovens são importantes para o nosso modo de viver”. Isso porque sua memória remonta ao tempo de fundação do MIQCB e de todas as conquistas alcançadas até aqui. “Não conquistamos nada sem luta. É isso que queremos ensinar a vocês que estão chegando”.

A diretora da CIMQCB, Raimunda Nonata Bezerra de Oliveira, afirmou apoio às próximas atividades e acrescentou que a cooperativa tem a intenção de ampliar o catálogo de produtos derivados do babaçu com a inclusão da juventude nas atividades laborais. Ao parabenizar os artesãos elogiou as peças, “são lindas! Que orgulho participar desse momento e desfrutar da maravilha que está acontecendo com o nosso babaçu”.


Dia 1 - A mãe Palmeira

Pela manhã, um grupo de jovens seguia Rosalva pela mata em busca do coco verde, ainda no cacho. Durante o caminho ela explicava sobre o formato do coco e a importância de retirar apenas o necessário da palmeira. “O coco verde rende peças claras porque sua fibra ainda não amadureceu. Só conseguimos esse tipo de coco que ainda está no cacho, ligado à palmeira. O objetivo desta retirada está dentro da perspectiva do uso consciente, sem agredir e sem prejudicar o tempo de gestação da palmeira”. 

Quando o artesanato requer um tipo específico de coco, com a pigmentação mais clara, precisa ser retirado antes de cair. A coleta desse fruto verde não pode ser de forma predatória, mas extrativista. “Nós fazemos uso respeitoso da palmeira, a produção do artesanato deve ser consciente. Por isso que a Oficina precisa acontecer em etapas diferentes, no primeiro momento busco entender qual a relação que a comunidade tem com a preservação das palmeiras. Só depois entro na mata para ensinar como coletar o fruto necessário para as biojoias”, completou Rosalva. 

“A palmeira é um ser vivo”. Pontuou a artesã ao ser questionada por que não se deve cortar todos os cachos de uma só vez. “Se tu corta o dedo e precisa dar pontos para recuperar do machucado, vais precisar de um tempo para curar. Do mesmo jeito é a palmeira. Se tirar todos os cachos não estamos fazendo o uso sustentável, isso prejudica até mesmo a polinização. Ela deixará de produzir como produzia antes”.

Na mata, mais a frente, crianças e adolescentes de Pifeiros coletavam cocos do chão. Mais uma vez, Rosalva orientou: “Quanto mais maduro o coco, mais escura é a sua casca. A peça que será produzida a partir dele terá uma coloração de castanho claro a castanho escuro”. Ela segurou dois cocos nas mãos e perguntou aos alunos se alguém sabia a diferença entre eles, a que Ana Paula Lima de Oliveira responde: “essa é nascida” - apontando para o coco com brotos de raízes.

O coco com nascida já brotou por dentro, a raíz encontra caminho de dentro para fora em busca da terra. Esse fruto maturado tem a casca mais escura, quase negra. Depois de encerada e pronta para usar, a peça terá cor profunda, a obsidiana vegetal. 

“O principal uso do coco com nascida é comer. Quando sai essa raizinha para fora, é porque as amêndoas que tem dentro daquele coco já estão sentindo a terra. E ela já começa a sair para se fixar no chão e a partir daí virar uma pindovinha. Aquela amêndoa é uma palmeira, nascendo”, explicou Rosalva.  

A artesã compartilhou suas memórias de infância com seus alunos. Filha, sobrinha, neta e bisneta de quebradeiras de coco, quando se juntavam para quebrar babaçu as nascidas já tinham destino: a cuia de farinha que alimentaria a pequena Rosalva. “Ela é docinha e é altamente nutritiva, com fome a gente não fica”.

Com os sacos abarrotados de babaçu, a caminhada de volta nos leva à casa de Ana Paula. Onde os cocos passam pela primeira triagem. São separados por verdes, maduros e nascidas. Algumas amostras são abertas para demonstrar suas características internas. O verde tem a castanha mole, ainda em desenvolvimento. O maduro tem a castanha bem dura e visualmente seca, porém, ao manipular, o cheiro e a textura do óleo natural sobressai. Já a nascida possui amêndoas germinadas de sabor adocicado, o preferido das crianças. 

Dona Edileuza, atenta aos detalhes para contribuir com a Oficina, demonstrou como é a nascida por dentro da castanha depois de quebrar o coco. “Aqui dentro tem o baguinho, ele é gostoso, docinho, isso aqui eu já comi muito. É uma delícia, para quem não experimentou ainda, é muito bom experimentar, que é muito gostoso”.

Entre um coco e outro, eram encontrados os gongos. Essas larvas vivem dentro do coco e se alimentam das amêndoas para se desenvolverem. Os besouros, popularmente conhecidos como bicho do coco, colocam seus ovos na superfície dos frutos. Dez dias depois, a larva eclode e penetra o babaçu, comem a castanha para se alimentar ao passo que desocupa o casulo vegetal para sua própria proteção, até se tornar um besouro e sair pela casca do coco. 

Como se alimenta apenas da castanha do babaçu, o gongo é fonte riquíssima de proteína, além de carregar toda a oleosidade proveniente da castanha de babaçu. Ele pode ser consumido in natura, mas também é principal ingrediente na produção de receitas que não levam óleo, já que possuem carga oleosa suficiente para a produção de variados pratos. 

De volta ao artesanato, a artesã e seus alunos se reuniram debaixo de um limoeiro para a habilidosa arte de retirada da fibra do olho de buriti para a confecção dos cordões naturais das biojoias. Rosalva demonstrou que a lâmina da folha de buriti quando ainda está nascendo produz uma fibra fina e resistente que pode ser removida com o auxílio de uma agulha. A fibra, translúcida de tão fina, deve ser deixada ao sol para secar. Só então é trançada para se transformar em um cordão. Posteriormente, na montagem da peça, o cordão é embebido com a cera de carnaúba para oferecer ainda mais resistência e brilho. 

No final da manhã, o grupo seguiu rumo à Casa do Artesanato com dois sacos cheios de matéria-prima. Ao lado da forrageira, um espaço com ferramentas básicas como morsa, ceguetas, esmerilhadeira, lixadeiras e outros materiais de artesanato estavam montados para dar início às produções das biojoias. Tudo preparado para a continuidade da oficina após o almoço.

Serrar o coco do babaçu não é uma tarefa fácil nem tampouco rápida. Com a morsa, o coco era preso de forma que a cegueta pudesse correr livremente. Ainda assim, para tirar a primeira moeda de babaçu, Acélio Santos escorria em suor nos quinze minutos ininterruptos de força nos braços. 

O coco possui quatro camadas: na camada exterior podemos encontrar o epicarpo, uma casca fina que protege todo o fruto, ao removê-la consegue-se observar o mesocarpo, camada da qual é feita a farinha de babaçu; o endocarpo é a parte mais dura, a qual guarda a amêndoa, que é a última camada. Antes de levar o coco à serra é necessário remover as duas primeiras camadas, assim se preserva a vida útil da ferramenta que demora mais para ‘cegar seus dentes’. 

Enquanto Acélio cortava as peças manualmente, Rosenete aprendia como trançar e encerar os cordões com a cera de carnaúba. Logo, o fim do dia se aproximava e o sol descia por detrás do babaçual que cerca a comunidade. As despedidas encerraram o primeiro dia com a limpeza do local e o compromisso para o encontro da manhã seguinte. 


Dia 2 - Biojoia tomando forma

Ainda era cedo e Rosalva já estava de pé. Toda a comunidade já estava em atividade. Enquanto alguns tiravam o leite da vaca, outros trabalhavam na lavoura de maracujá. Da porta da casa de Dona Nalva dava pra ver que o galinheiro já estava em festa, as aves já estavam alimentadas. À caminho da Casa do Artesanato, outros lares já apresentavam movimento, de algumas até dava até para sentir o cheiro do azeite de babaçu sendo preparado. 

A vida em Pifeiros começa antes de amanhecer, as casas não têm muros e nem precisam. A comunidade é uma grande família, as crianças andam de bicicleta livremente, brincam juntas em lugares diferentes. As mulheres estão na cozinha desde muito cedo para garantir que o almoço fique pronto a tempo. Tanto para alimentar seus filhos, como preparar a boia dos homens que estão na lida. O ritmo tem trilha sonora de passarinhos, farfalhar das palmeiras ao vento e água corrente. Vez ou outra se escuta o latido de um dos cachorros caramelos, típicos brasileirinhos, que preferem dormir à sombra. 

Já na Casa do Artesanato, as atividades prometiam um público maior. A escola não abriria pela manhã, isso significava que mais crianças e adolescentes teriam mais tempo para participarem. À medida em que chegavam recebiam uma tarefa, sempre sob o olhar atento da artesã que orientava sobre as formas mais rápidas e confortáveis de se fazer. 

A força tarefa rendeu e as peças começaram a ganhar brilho. Da retirada da fibra do olho de buriti ao polimento do babaçu se via uma pessoa para cada tarefa. O segundo dia foi dedicado, em sua maior parte, a lixar e polir as peças. A esmerilhadeira fazia o grosso do trabalho, duas lixas grossas deixavam a peça cada vez mais parecida com uma biojoia, o polimento finalizava o trabalho para a cera de carnaúba cobrir e dar brilho. Uma peça passava de mão em mão até sua finalização. 

À tarde, as crianças e adolescentes voltaram à rotina escolar e apenas os jovens adultos continuaram na tarefa artesanal. Aos poucos o coco passou de fruto para brincos, colares, chaveiros e pulseiras. A oficina varou a noite para concluir a missão de apresentar as biojoias em exposição no dia seguinte. Todos estavam ansiosos pela chegada das coordenadoras do MIQCB, da direção da CIMQCB e da Secretaria da Juventude para se reunir com a comunidade. 

Tarde da noite, o sono chegava, mas a empolgação era tanta que Rosalva continuava a demonstrar diferentes modelos de trama para os cordões naturais e sintéticos sob as lanternas dos celulares. Cada trama com um nó diferente, nas mãos habilidosas da professora parecia fácil, mas a cada tentativa a certeza de que somente a prática poderia aprimorar a capacidade de alcançar o ritmo e a qualidade de seu trabalho. 

Pouco tempo depois, Rosente e Acélio fizeram uma trama inteira sozinhos e ficaram felizes com o resultado. “Quando pega o jeito vai ficando mais fácil”, exclamou a jovem surpresa. “Eu quero aprender a fazer o cordão inteiro agora”, pediu ele. Ao passo que Rosalva já se prontificou: “Então pega lá a linha sintética que ela é longa o suficiente para uma trama completa”. De nó em nó, a linha se transformou em cordão. 

O dia já era breu quando as tarefas estavam finalizadas. A organização e a limpeza da sala tornou-se a ordem do momento e cada integrante guardou, limpou e planejou a sua parte para a manhã seguinte. 


Dia 3 - Resgate e Exposição

O dia começou em festa, o Grupo Pindova estava preparando o salão da igreja para receber o MIQCB, CIMQCB e a comunidade para apresentar as biojoias feitas durante os dois dias de oficina. Na oportunidade, os jovens também prepararam uma apresentação para demonstrar o processo de produção e demonstrar a condição do babaçu após cada processo. 

A matriarca da comunidade, Dona Inês, chegou bem cedo. Ela, que é liderança tronco do MIQCB, também esteve envolvida na organização social de Pifeiros desde o início, ainda na década de 90. Ao recepcionar as companheiras que vieram de Imperatriz, muitas delas de outras comunidades, declarou sua alegria. 

“Nós ficamos felizes com as conquistas de cada luta que engajamos. Nós sonhamos com essa Casa de Artesanato e conquistamos, sonhamos em incluir a juventude e conquistamos, sonhamos com as ferramentas para que os jovens pudessem trabalhar e temos conquistado aos poucos. As joias que vemos hoje são frutos de muitos anos de trabalho”, relembrou a matriarca. 

Entre sorrisos e abraços, as mulheres e a comunidade se acomodaram em um grande círculo. A Secretária da Juventude do MIQCB, Maria José Silva, apresentou a assessora de Juventude, Carla Pinheiro, recém contratada do Movimento para desenvolver as atividades das Juventudes nos quatro estados de atuação: Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins. 

Carla disse que está feliz em poder contribuir com esse novo eixo de atuação e que a primeira ação será um diagnóstico participativo, oportunidade dedicada a ouvir as juventudes e identificar as ações apropriadas para atuar em cada localidade. “A ideia é ouvir e observar, nós queremos construir um planejamento conciso com a realidade de cada lugar”.

Na sequência, dona Inês dispôs da palavra para relembrar as circunstâncias da criação do Movimento ainda na década de 90. “Foi muita luta, foi muito trabalho. Agora é a vez da juventude continuar com tudo que construímos até aqui. Não será fácil, mas nós nunca conseguimos nada sem luta mesmo”. Ela recebeu a juventude em seus braços para celebrar este pacto geracional. 

Acélio Santos, agora artesão de Pifeiros, era uma criança quando o Grupo Pindova começou suas atividades. Ele lembrou que era criança quando viu a geração anterior sonhar com a Casa de Artesanato e revelou sua gratidão pela continuidade do projeto na comunidade. “Eu sou a prova viva desse sonho e pretendo levar esse sentimento comigo na produção das próximas peças e na responsabilidade de desenvolver novos artesãos na minha comunidade”. 

A Casa de Artesanato em Pifeiros é uma conquista importante. A primeira geração do Grupo Pindova começou o trabalho artesanal e a luta por um espaço adequado para o desenvolvimento das atividades manuais de produtos derivados do babaçu. Wcélia Carvalho foi integrante dessa primeira geração e hoje atua como assessora técnica do MIQCB Regional Imperatriz. Ela reforça que, por mais que não esteja na quebra do coco atualmente, se considera quebradeira de coco, assim como sua mãe, avó e bisavó.

Wcélia conta que ainda na criação do Grupo Pindova - Filhos da Mãe Palmeira, em 2016, o artesanato já era uma proposta de desenvolvimento para as novas formas de produzir derivados do babaçu. “No início não entendíamos bem porque não fazia parte da nossa vivência. Nossa vida era quebrar o coco, tirar a amêndoa, fazer o azeite e fazer o carvão”. Aos poucos, o recém criado Grupo Pindova aceitou o desafio. Mais de 20 jovens na faixa etária entre 10 e 27 anos se organizaram. 

O grupo foi criado com a divisão de faixa etária para trabalhar na produção de coletar, selecionar, cortar, modelar, lixar, polir e montar. Do pequeno ao maior, o grupo se fortalecia por meio do engajamento. “Essa conquista me traz um orgulho imenso, porque nossa luta de início foi forte. Nunca desistimos desse sonho. Lembro que para produzir o artesanato, antes a gente tinha que construir uma latada”, relembrou Wcélia. 

A latada é uma cobertura de palha sobre estacas de madeira, como demonstrada na foto da oficina feita ainda com a primeira geração de jovens de pifeiros. Com as estacas fixadas ao chão, uma fileira de outras estacas eram postas na parte superior para que as palhas fossem colocadas como cobertura. Na sombra projetada, os jovens de Pifeiros se reuniam para trabalhar o artesanato. Wcélia conta que “sempre que o sol secava as palhas, ou a chuva molhava e apodrecia a estrutura, a latada precisava ser reconstruída”. 

Por isso a Casa é uma conquista importante. Ter onde guardar as ferramentas e materiais, além de poder trabalhar protegido do sol e da chuva, “é uma conquista imensa para a comunidade”. Wcélia ainda reafirma que o espaço também contribui para o fortalecimento do grupo de jovens e à cultura local. 

“Nós demos o nome de Filhos da Mãe Palmeira à Casa de Artesanato porque representa nosso orgulho e gratidão. Ela é o símbolo de que vale a pena lutar, trabalhar e conquistar. Daqui para frente desejo que as atividades continuem firmes e fortes para que a gente possa perseverar”, estimou Wcélia. 

A CIMQCB tem parte importante nessa história. O Projeto de criação do Grupo Pindova nasceu de uma ação conjunta entre cooperativa e movimento. O slogan da campanha diz muito sobre a intenção: gente nova na vida do babaçual. O Grupo abrange todas as comunidades ligadas ao MIQCB, mas pretende especializar o trabalho da juventude nas produções da agricultura familiar e extrativista. A juventude de cada comunidade escolheu seu nome e sua atuação. 

São quatro os eixos possíveis para a atuação da juventude: artesanato, educação contextualizada, agroquintais-agrofloresta e quebra do coco. A juventude de Pifeiros, por exemplo, escolheu atuar em todos os eixos. Desta vez, o foco foi o artesanato, mas os planos da CIMQCB é desenvolver as demais atividades com a parceria de agentes externos e internos, como no caso do Centro de Formação das Mulheres Quebradeiras de Coco Babaçu que formou a primeira turma recentemente. 

Raimunda Nonata Bezerra de Oliveira, diretora da CIMQCB, explica que incentivar as juventudes é muito importante porque significa a continuidade da luta travada por elas há décadas, principalmente em relação à produção do babaçu. “Nós não tivemos essa oportunidade no nosso tempo de juventude. São ações como essa que impedem que a nossa cultura se acabe”.

A CIMQCB é uma filha do MIQCB. O Movimento começou por causa da necessidade que as mulheres sentiam em se organizar para proteger a si e ao babaçual, com o tempo outras demandas surgiram e outros desafios foram postos. A Cooperativa, no entanto, foi criada para trabalhar a comercialização e a produção dos derivados do babaçu. A CIMQCB iniciou suas atividades em 2009, desde então as quebradeiras de coco podem se associar e participar da estruturação das atividades nas regionais. 

Hoje, a CIMQCB está em expansão e já atua nos quatro estados onde estão as quebradeiras de coco: Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins. As mulheres cooperadas têm destino certo para a venda de seus produtos e podem utilizar a estrutura que a cooperativa disponibiliza, além de não ter vínculo de exclusividade. Ou seja, elas podem continuar a vender de forma independente também. 

Segundo Raimunda, os benefícios são vários em contrapartida às dificuldades que ainda existem. “Já tem quase dez anos que sou sócia e eu acho muito bom, tenho visto melhorias importantes”. É uma cooperativa relativamente nova, mas as vantagens já se sobressaem. “Todo fim do ano recebemos a cota-parte, um dinheiro importante para nós. Mas a principal vantagem é que ela é nossa, nós é que a mantemos. Vendemos o que produzimos hoje para financiar o futuro do babaçu no mercado”.

O encerramento da atividade ficou por conta da apresentação do coco em processos diferentes. Os jovens demonstraram a situação em que o babaçu ficava a cada parte do processo de fabricação das biojoias. O público pôde sentir a textura do fruto mudar para a maciez da biojoia. Por fim, a loja estava aberta e todas as pessoas puderam comprar diretamente com os novos artesãos. 

As peças continuam à venda por meio da CIMQCB. Os artesãos podem atender os pedidos diretamente, assim como encomendas específicas. O contato da artesã Rosalva Gomes,  (99) 98809-2930, e do jovem artesão Acélio Santos, (99) 98410-2965, estão disponíveis pelo aplicativo de conversas WhatsApp.

Confira as peças que foram criadas nos três dias da Oficina:
















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